Budismos: Theravada, Mahayana e Vajrayana
Jean-François Revel – Historicamente falando, quando, como e porquê é que a escola Theravada se separou da escola Mahayana?
Matthieu Ricard – Como poderás imaginar, essa questão é algo sobre o qual os seguidores da escola Theravada e Mahayana não têm exactamente a mesma visão. Os ensinamentos Theravada são todos incluídos no Mahayana, que depois lhes adiciona uma nova dimensão. E é este último ponto que tem gerado imensa discussão dentro do próprio Budismo. De acordo com os seguidores do Mahayana, o Buda ensinou quer Theravada quer Mahayana durante a sua vida. Mas, dado que ele ensinava de forma diferente consoante as pessoas que tinha à sua frente, ele apenas ensinou o Mahayana aos que tinham a abertura de mente necessária para poder aprender a sua mensagem. E não estamos aqui a falar de ensinamentos esotéricos, que também existem no Budismo, mas de diferentes níveis de ensinamentos que não foram diferenciandos nominalmente durante o período de vida do Buda.
O Mahayana enfatiza que uma pessoa desejar libertar-se do sofrimento, sozinha, é um objectivo bastante reduzido. Ao mesmo tempo que alguém se compromete a percorrer esse caminho, deve simultaneamente ter a intenção de Despertar em benefício de todos os seres. A transformação ocorre para que se possa adquirir a capacidade de ajudar os outros a libertarem-se do seu próprio sofrimento. Dado que eu sou apenas uma pessoa, enquanto os outros são infinitamente numerosos, o que quer que me aconteça a mim, bom ou mau, é insignificante comparado com o sofrimento e a felicidade dos outros. A profundidade dos ensinamentos Mahayana reside na sua visão sobre o vazio, sobre a verdade absoluta. O vazio (“emptiness“) não tem contudo nada a haver com a não-existência (“nothingness“), mas consiste em entender que os fenómenos não têm uma existência intrínseca. Os seguidores do Theravada contestam esta visão das coisas, assim como a autenticidade dos ensinamentos Mahayana.
Eu devo também mencionar aqui que existe ainda um terceiro veículo, que surgiu na Índia, tal como os outros dois, mas que se propagou especialmente no Tibete. É chamado o Vajrayana, ou Veículo do Diamante, e basicamente adiciona ao Mahayana um grande número de técnicas esotéricas para o caminho da contemplação.